Um ambiente colorido, com objetos sonoros, várias texturas e múltiplas formas de testar o próprio equilíbrio, esse é o ambiente de uma sala sensorial. Onde, através da terapia de integração sensorial, pacientes com deficiências intelectuais e/ou múltiplas conhecem ou reconhecem o mundo ao redor.

A sala é praticamente um parque de diversões, ao menos é o que parece. Mas a presença de profissionais de terapia ocupacional e colegas de equipe multidisciplinar provocam um segundo olhar. De que as percepções motoras e o desenvolvimento cerebral estão causando profundas transformações nos pacientes, é a ciência em ação, autonomia, independência e despertar.

A sala sensorial tem essa característica de fazer aflorar adjetivos, é um laboratório em constante movimento. As conquistas que as pessoas com deficiência demonstram a cada encontro são tão ricas que realmente ficamos na dúvida sobre quem está evoluindo mais: a neurociência ou os pacientes.

 

Estímulos sensoriais e desenvolvimento psiconeurológico

Sabe-se que o cérebro é uma massa cinzenta moldável por toda vida, no entanto, em criança até os 3 anos de idade, principalmente, o cérebro realiza bilhões de conexões neurais. É quando o indivíduo está aprendendo sobre o mundo ao redor, quanto tudo quer pegar, ou o que vê coloca na boca, sentir o gosto, textura, apertar e descobrir a resistência dos materiais, estímulos olfativos, vestibular, auditivos, gustativos, visual e perceptivo, construção do próprio equilíbrio, criando consciência corporal, entre tantos outros.

Por alguma deficiência congênita ou acidente ao longo da vida, algumas pessoas possuem a capacidade de conexões neurais lentas ou reduzidas, dessa forma, leva-se mais tempo para acumular o mesmo número de percepções, vivências e experiências.

Ao responder de forma diferente ou mais devagar às respostas que o mundo pede a cada instante, a interação social das pessoas com deficiência passa a ser menor também. Porém, isso não quer dizer que elas deixam de interagir, aprender ou buscar a própria independência como indivíduos.

A sala sensorial é um ambiente protegido, de riscos controlados, para que as pessoas com deficiências intelectuais e/ ou múltiplas possam continuar a sua própria jornada em busca da evolução e interação.

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Integração sensorial

A integração sensorial foi desenvolvida pela terapeuta ocupacional estadunidense Anna Jean Ayres, na década de 60, que correlacionou as sensações corporais com os mecanismos cerebrais, e como esse diálogo ocorre para estabelecer o processo de psicoaprendizagem da criança.

Embora a pesquisa tenha se iniciado com crianças, hoje os pacientes são de todas as idades, jovens, adultos e idosos, que tenham nascido com alguma deficiência ou que tenham necessidade de estimular e reestabelecer suas conexões neurais.

O objetivo da sala sensorial é propiciar a observação sensitiva aos profissionais da saúde que estão acompanhando o paciente, enquanto o objetivo da pessoa atendida é descobrir através da brincadeira e referências positivas como (re)conquistar a própria autonomia e independência, pois os canais de comunicação com o mundo, os nossos 5 sentidos, estão agindo concomitantemente e é extremamente necessário que seja dessa forma, afinal, fora do ambiente da sala sensorial os estímulos podem continuar de forma desorganizada.

Uma pessoa com transtorno do espectro autista (TEA), por exemplo, tem dificuldades em lidar com muitos barulhos, luzes, texturas, cheiros, distâncias e movimentos bruscos, porém, dentro da sala sensorial, esses estímulos são trabalhados e identificados. A partir desse conhecimento, nota-se a reação do paciente a cada estímulo e se passa ao tratamento mais adequado. Muitas vezes com a participação multidisciplinar de profissionais.

 

Perfil sensorial da pessoa com deficiência

É interessante conhecer o perfil sensorial da pessoa em atendimento. Como cada indivíduo é único, cada pessoa recebe um tratamento focado em suas limitações. Como os profissionais dizem: “Pense de forma holística e aja de forma individualizada”.

Essa é uma dica bacana para os pais e acompanhantes: Observe as reações quanto aos estímulos da vida cotidiana, tanto para acompanhar o progresso das atividades dentro da sala sensorial, como para colaborar no tratamento de forma assertiva.

Um exemplo que costuma ser usado é o ato de escovar os dentes pela manhã:

– Como a pessoa se organiza no espaço do banheiro?

– E o pisar/ tato com o tapete do banheiro?

– Com que mão ela pega a pasta? E a escova? Quais as cores?

– Como é a força que ela aplica ao escovar os dentes?

– Ela usa um copo para água do bochecho? Ou pega a água com as mãos?

– Ela leva a água corretamente até a boca? E faz o movimento de enxágue adequadamente?

– Outros.

Essa ação tão corriqueira para a maioria das pessoas pode ser um verdadeiro desafio para alguns indivíduos com deficiência intelectual e/ou física. Há exemplo de itens que talvez não façam o menor sentido para os pais ou cuidadores, mas que chegam a causar verdadeira dor ao paciente.

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Fora da sala sensorial

A seletividade é observada dentro e fora da sala sensorial, e acontece o tempo todo. Através dela, as sensações corporais ativam os mecanismos cerebrais, criando memórias de referência e hábitos.

Por exemplo: O que acontece se uma pessoa hipersensível aos estímulos sonoros for trabalhando a tolerância aos sons e ruídos na sala sensorial? A probabilidade de reagir de forma adaptada em vários outros ambientes aumenta muito, assim, as chances de interação e participação crescem como consequência.