Apesar dos inúmeros avanços na inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho o Brasil ainda precisa progredir muito nessa área.

Nos últimos anos, as produções legislativas apresentaram melhorias na área, e isso pode ser percebido nas estruturas arquitetônicas das cidades brasileiras que estão cada vez mais adequadas a promover acessibilidade, na quantidade de instituições de educação que atuam direta ou indiretamente com deficientes físicos e a quantidade de indivíduos que, mesmo com algum tipo de limitação física ou intelectual, exercem atividade remunerada.

Porém, tendo como base os avanços tecnológicos existentes na nossa sociedade e os benefícios existentes na abertura dos mercados para pessoas com deficiência, essa realidade poderia ser muito melhor, e será sobre isso que discutiremos nas próximas linhas.

Receba as novidades da APAE Diadema!

Realidade brasileira da inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho

A lei nº 8.123, de 24 de julho de 1991, obriga a contratação de pessoas com deficiências físicas e, embora em 2019 ela faça 28 anos, dados colhidos pela Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) de 2015, que foi divulgada pelo antigo Ministério do Trabalho, apenas 0,84% dos vínculos empregatícios existentes correspondiam a contratos de trabalhos firmados com pessoas com deficiência.

Apesar desse cenário, ainda pode-se encontrar muitas vagas de emprego abertas direcionadas a pessoas com deficiência física, principalmente no ambiente on-line, o que nos leva a crer que a sociedade ainda carece de mover esforços para proporcionar a essas pessoas o acesso à educação de qualidade, que leve em consideração suas limitações e necessidades.

Desafios a serem vencidos na inclusão de deficientes no mercado de trabalho

Nesse contexto, um dos principais preconceitos existentes que precisam ser quebrados com urgência no que diz respeito a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho é aquele que faz pensar que todas as limitações sejam incapacitantes para a atividade laboral.

Com absoluta certeza os atuais avanços tecnológicos nos levam a crer que a maioria das limitações físicas que afetam um indivíduo podem ser superadas caso o profissional se valha dos recursos corretos para desenvolver suas atividades.

Leia também: Educação especial no Brasil: Os desafios da APAE Diadema

Prova disso é Stephen Hawking, que foi um dos físicos teóricos mais influentes da atualidade que mesmo tendo boa parte das suas funções comprometidas pela esclerose lateral amiotrófica desafiou seus limites com a ajuda da tecnologia e deixou um grande legado às próximas gerações.

Temos também como exemplo o caso do nosso atendido Claudinei, que foi a primeira pessoa com deficiência intelectual que foi inserida no mercado de trabalho por meio do nosso projeto emprego apoiado.

Com o objetivo de gerar inclusão, uma análise foi feita para que se encontrasse o emprego ideal, sem que ele precisasse passar por adaptações para se enquadrar às exigências da empresa. Claudinei passou por uma vivência em uma empresa de reciclagem no mesmo bairro onde ele residia.

Ele adorou o emprego e foi bem aceito pelos colegas de trabalho. Hoje, Claudinei desempenha a função de ajudante geral e cumpre uma jornada de 40 horas semanais.

O que é emprego apoiado?

Emprego Apoiado é uma metodologia que visa a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho em empresas públicas ou privadas, trabalho autônomo, estabelecimento de negócio próprio, participação em cooperativas e outros empreendimentos da economia solidária – de pessoas em situação de incapacidade mais significativa.

Os usuários dos programas de Emprego Apoiado devem ter à disposição deles, sempre que precisarem, os apoios necessários para conseguir obter, manter e se desenvolver no trabalho.

O público-alvo do emprego apoiado são pessoas em situação de incapacidade mais significativa que não estão sendo atendidas pelos sistemas tradicionais de colocação ou não conseguem se manter em um trabalho devido à intensidade dos apoios que necessitam.

Veja os valores do Emprego Apoiado:

  • Paradigma da Inclusão: a sociedade deve mudar para incluir todas as diferenças;
  • Modelo Social da deficiência: a incapacidade não é algo que a pessoa possui, mas resultado do impacto que o ambiente exerce em sua condição de vida;
  • Respeito às diferenças: toda pessoa tem pontos fortes e competências que devem ser valorizadas;
  • A pessoa em situação de incapacidade mais significativa tem preferências e o direito de fazer escolhas;
  • A comunidade deve ser o centro das experiências para o desenvolvimento das pessoas em situação de incapacidade mais significativa.

Leia também: Como funciona o terceiro setor?

Para desenvolver um bom trabalho utilizamos a metodologia do Emprego Apoiado que é dividida em três fases:

  1. Descoberta do Perfil Vocacional: uma avaliação ecológico-funcional, baseada na comunidade para descoberta dos pontos fortes, interesses e necessidades de apoio da pessoa com deficiência;
  2. Desenvolvimento de Emprego: neste ponto descobrimos um trabalho em um estabelecimento comercial, industrial ou da área de serviços que combine com o perfil vocacional. Pode ser também o desenvolvimento de um trabalho por conta própria ou a participação em empreendimento de economia solidária. Para verificar a compatibilidade entre o perfil da pessoa com o perfil do trabalho a ser executado é feita uma análise da função, que leva em conta a cultura da empresa, a disponibilidade de apoios naturais e as exigências para executar a função.
  3. Acompanhamento pós-colocação: realizamos um acompanhamento do treinamento e da inclusão social do usuário na empresa para verificar se as estratégias e os apoios naturais estão funcionando. Quando se considera que tanto o usuário quanto a empresa já estão prontos, tem início o acompanhamento contínuo.

Benefícios em incluir um deficiente no quadro de funcionários da organização

Quando uma empresa acolhe uma pessoa com deficiência no seu quadro de funcionários ela também está se beneficiando, já que esse comportamento faz com que ela cumpra com as ordenanças legais, passa a ser percebida como uma organização socialmente responsável, preocupada com as necessidades da comunidade, fomenta o respeito às diferenças e promove o senso de união entre seus funcionários.

Dessa maneira, entende-se que a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho se dá por meio da adoção de políticas públicas mais consistentes no âmbito educacional e de preparo desses profissionais, trabalhando-se aspectos da inclusão, fornecendo preparo metodológico para empresas e instituições que irão receber esses indivíduos, estrutura tecnológica compatível com a realidade dessas pessoas, envolvimento e participação de toda a sociedade e organizações nesses assuntos e a adoção de políticas inclusivas que levem os indivíduos da sociedade a se perceberem como diferentes, desenvolverem o auxílio mútuo e agirem com respeito entre si.

Nesse contexto, entidades públicas podem atuar como agentes fiscalizadores, para garantir que as leis sejam cumpridas, promovendo a ligação entre deficientes e mercado de trabalho, ou até mesmo gerindo recursos em prol do preparo desses profissionais para o exercício de atividade remunerada. São, portanto, imprescindíveis para o sucesso de políticas públicas voltadas para pessoas com necessidades especiais.

Inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho: seja você também um apoiador dessa causa!

Conheça o trabalho da APAE